Relatos de uma Viajante no Canadá. Sobre tudo de novo que tenho visto por aqui

Por Joyce Lins /

Publicitária e analista de marketing, aos 31 anos pediu demissão de um trabalho estável e produtivo, vendeu o carro que tinha, despediu-se da família e dos amigos e deixou a vida tranquila de Salvador/BA com o marido para construir uma nova vida no Canadá. Hoje, tenta se adaptar ao clima, costumes e qualidade de vida do Canadá.

Quando eu decidi me mudar para o Canadá, a minha vida mudou bastante. Não só o meu endereço, que agora é no hemisfério Norte, como o clima, a arquitetura, as opções de lazer, minha forma de vivenciar momentos simples (como pegar um ônibus) e até os hábitos alimentares. E como muita coisa é diferente do que eu conhecia aí no Brasil, resolvi começar a contar para quem quiser conhecer um pouco mais sobre  vida por aqui, um pouco das minhas percepções sobre Montréal. Vamos lá?!

MONTRÉAL

Para quem não sabe, Montréal é a maior cidade da província (o que no Brasil chamamos de “estado”) do Québec, mas a capital mesmo é Cidade de Québec. A cidade possui cerca de 1,6 mihões de habitantes e é muito conhecida por ser uma cidade bem preparada para o inverno e por abrigar gente do mundo todo. Nas ruas, vemos pessoas das mais diversas nacionalidades, falando línguas que às vezes não tenho ideia de quais são, uma loucura!

O FRIO

 Para quem só tinha conhecido no mínimo a mísera temperatura de -1 grau, não foi muito fácil me deparar com -13, -20 e até -30 graus. Onde mais sinto frio é no rosto, incrível como as bochechas ardem! O nariz fica vermelho, coriza e até os olhos lacrimejam quando são invadidos pelas frias rajadas de vento. O que todo mundo diz aqui é:

– “proteja as extremidades” (mantenha mãos, pés, orelhas e rosto sempre aquecidos). Para isso, mãos devem estar sempre livres e dentro dos bolsos do casaco, mesmo com luvas;

– tente fazer um esforço para sair de casa (melhor não dar vez à depressão invernal, né?);

– os dias mais ensolarados são os mais frios (a mais pura verdade!).

E o mais curioso é que no pior dos frios que você possa imaginar, a vida segue normalmente. Vejo pessoas praticando a corrida de rua tranquilamente com o rosto desprotegido (o que me deixa P da vida, porque ainda não tenho estômago para isso!), crianças saem com seus pais para brincar nos parques, bandas fazem shows a céu aberto. Além disso, o sistema de retirada da neve das ruas é muito organizado. Além de cada um ter sua pá para tirar a neve da porta de casa, minitratores da prefeitura passam regularmente limpando a calçada e grandes caminhões de neve recolhem toneladas do gelo das ruas.

Outro dia vi uma sinalização na minha rua, que indica que é proibido estacionar das 19 às 7h, pois o caminhão passa com tudo tirando a neve  da rua. E ai de quem esquecer o carro estacionado, é logo guinchado. Mas, convenhamos: é neve que cobre a cintura! Tenho pena de quem precisa cavar para conseguir tirar o carro do aperto!

SEGURANÇA

Quem me conhece sabe que este foi um dos fatores que mais me fizeram vir para cá. Depois de ser vítima de alguns furtos a mão armada ou não, e de ouvir histórias de amigos e conhecidos que haviam sido roubados, já não conseguia mais ir na esquina em Salvador sem sentir medo de ser abordada por um assaltante. Aqui, demorei um pouco para andar tranquilamente sob um viaduto escuro sem sentir medo. Acho que até hoje fico ligada por onde ando, mas não tem preço voltar da ceia de Natal de metrô, depois da meia-noite, na maior tranquilidade. Até brinquei com meu marido que aqui o único medo que temos é o de perder o último metrô da noite, não o de sermos assaltados. rs

Aqui todo mundo anda no metrô ou no ônibus ouvindo música em seu iPhone ou smartphone, lendo no kindle ou mexendo em seu  notebook. Numa boa. Claro que se você vacilar, um esperto pode roubá-lo numa estação de metrô (gente ruim tem em todo canto!), mas é difícil ser alguém armado, ou lhe abordar na frente de todo mundo.

LIMPEZA

No fim do dia, as estações de metrô, bem como os vagões e os ônibus, estão meio sujinhos depois de tanta gente passar de um lado para outro com botas de neve. Mas no quesito Coleta de Lixo,  fico impressionada como todo mundo adere à separação entre lixo orgânico e o reciclável. Os moradores recebem as duas lixeiras, cada uma destinada a seu lixo próprio. O caminhão de cada coleta só passa uma vez por semana, num horário que não sabemos exatamente, eles só estipulam o turno. Na noite da véspera, todo mundo já coloca a lixeira em sua porta e no dia seguinte, é só pegar.

Só agora percebi o quanto produzimos e desperdiçamos o lixo que pode ser reaproveitado. É frustrante saber que no Brasil poucos pensam em separá-lo, a função acaba ficando para os catadores nas ruas.

TRANSPORTE PÚBLICO

Aqui, você pode utilizar os sistemas públicos de transporte aleatoriamente, mas precisa depositar o valor exato na máquina, pois não tem cobrador de ônibus. O melhor é comprar o cartão Opus e recarregá-lo de uma das três seguintes formas: fim de semana, semana ou mensal. Em todos os três casos você pode utilizar tanto ônibus quanto metrô à vontade no período equivalente à sua recarga. Isso é uma maravilha! Agora no frio mesmo, quando não queremos andar a distância de uma estação para outra, basta usar o cartão. É muito prático! Dá uma sensação de liberdade da zorra! RS

Por enquanto é isso. Depois eu falo mais sobre a minha nova casa Montréal.

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